Faltava isso. Sentar aqui e olhar a manhã com o
sol nas minhas costas. Mas o dia está nublado – fica o sobreaviso. Pretendo
escrever um poema. Mato uma barata. Meu olho míope a confundiu, na passagem
para o banheiro, com uma folha. Se existiu uma folha, ela estava ao lado do
quarto de dormir. Quarto bom. Lá tem semi-luz (desejo retocado de meus planos-diários).
Ter uma semi-luz, peço. Fazer um chá. Fiz um chá. Escrever. Não importa. Escrever o dia.
O dia é implacável com as contas da casa, com a casa, com a roupa suja da casa,
com as contas da casa, com as contas da casa, com a panela suja da casa e os talheres
sujos na pia. O dia é implacável com as ondas. Mas eu tenho duas laranjas
olhando para mim. Isso me conforta? Sim-sim-se. Eu diria sim e faço o seguinte gesto:
minha mão esquerda coça a minha mão esquerda. É tão difícil entender. Choremos,
portanto. Mas com calma. Nem sempre chorar tudo é o lance-escape. Ok. Eu também
digo – não chore com parcimônia, Saulo. Chore com a sujeira da casa e na limpeza
fugaz do banheiro. Chore apenas e peça chocolate? Rio nessa intertextualidade suja. Amanhã tem aniversário
de Léo. Isso é tanto. Comemorar o coração é lança e laço. Eu já fiz muitas
coisas para um dia tão recentemente começado: li um poema inédito da Ana
Martins Marques, lembrei de domingoeudeitadonarede, li um poema inédito de um
escritor que está fudendo (gostoso?) com outro, matei uma barata, pus os panos
de chão para lavar, planejei lavar os banheiros, enviei burocracias de e-mails
(uma lástima), falei depois de muito tempo com Dene (um riso), li metade de um poema inédito. Estou com preguiça de tirar o excesso desse
texto e do cabelo. Peço desculpas pela sobra e cachos. Borbulha na boca a excreção de.
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