June 13, 2014

o que eu falo quando eu falo de amor e corrida

Terça-feira. Cristo na Barra. Sempre começo a correr. Lá. Para esquecer risos histéricos. Para esquecer um fracasso da semana anterior. Para esquecer meu corpo. Para reproduzir pernas doloridas. Para ter um motivo de continuar dolorido. Esquecer para lembrar. Esquecer o peso das costas. Lembrar o líquido dos joelhos. Lembrar a esperança do a-feto. A esperança do mar. Esquecer a morte no mar. Lembrar o mar. Lembrar a chuva desfazendo suor. Esquecer a gagueira. Esquecer a amnésia. Lembrar o cinismo. Lembrar para esquecer. Esquecer o medo. Esquecer a insegurança. Esquecer a representação. Lembrar um fracasso da semana anterior. Esquecer meu corpo. Esquecer minha alma. Esquecer teorias. Esquecer o dinheiro. Esquecer a classe apática. Esquecer justificativas. Lembrar estratégias e ventos. Lembrar o vento. Esquecer o futuro. Esquecer o passado. Lembrar o presente. Lembrar-esquecer. Inverter. Reverter. Esquecer e lembrar. Desistir. Continuar. Correr até onde as pernas não fiquem pernas. Esgotar meu pé. Até o Jardim dos Namorados. Um pouco mais. Um pouco mais. Até Amaralina. Até a Federação. Até amar. Amar. Desamar. Amar. O que pode uma criatura, entre outras criaturas, senão amar? Correr.

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