May 26, 2014

cores laranja e azul

Hoje eu perdi o fôlego rapidamente. Hoje eu desconfiei, displicente, se ainda tem sentido querer morrer. Afogar. Não consegui ficar afogado por mais de vinte segundos – achei estranho. Eu não lembrei de Alexandre. Eu não lembrei do feto na barriga da minha irmã. Eu fiquei aos teus pés. Eu não fiquei rouco, complicado, sério. Desde ontem faço amor rindo. Desde agora um futuro-presente rindo a todo instante. O cheiro de sândalo: presente. Roubando as flores no jardim e rindo. Deixando os pés de pato de lado. A melancolia de lado. Caio, de lado. Caio ao teu lado, muito próximo, dentro. Sentados durante meio minuto na janela. Lavando a pele. Dois em um. Nós dois, um a um. Me vejo no que vejo. Segurei sua cabeça, submerso. Seu braço submerso. Segurei seu peito sem ar muito tempo depois. Carregamos o ventilador, chocolate, o balde vazio, leite, laranjas. Carregamos os frevos da galeria – nosso quintal. Eu viro a esquina e estou com você. Eu tiro a roupa e estou com você. Eu ligo a televisão e estou com você. Eu com você pela manhã. Às cinco da tarde. Na minha agenda vermelha. No meu gesto mais vermelho. Na árvore: presente. Presente: eu derrubo azul todo azul, no azul azul, água azul. Açúcar Azul. Foi o bolo de maçã, eu sei. Muita raridade, eu sei. Muito cuidado, eu sei. Muita mancha na toalha molhada, não tem problema. Tanto-faz. Tanto tudo. Eu recordo de um plano esquecido. Vamos outra vez tirar uma foto com a primeira pessoa que encontrarmos?

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