Hoje eu perdi o fôlego rapidamente. Hoje eu desconfiei,
displicente, se ainda tem sentido querer morrer. Afogar. Não consegui ficar afogado
por mais de vinte segundos – achei estranho. Eu não lembrei de Alexandre. Eu
não lembrei do feto na barriga da minha irmã. Eu fiquei aos teus pés. Eu não
fiquei rouco, complicado, sério. Desde ontem faço amor rindo. Desde agora um
futuro-presente rindo a todo instante. O cheiro de sândalo: presente. Roubando
as flores no jardim e rindo. Deixando os pés de pato de lado. A melancolia de
lado. Caio, de lado. Caio ao teu lado, muito próximo, dentro. Sentados durante
meio minuto na janela. Lavando a pele. Dois em um. Nós dois, um a um. Me vejo
no que vejo. Segurei sua cabeça, submerso. Seu braço submerso. Segurei seu
peito sem ar muito tempo depois. Carregamos o ventilador, chocolate, o balde
vazio, leite, laranjas. Carregamos os frevos da galeria – nosso quintal. Eu
viro a esquina e estou com você. Eu tiro a roupa e estou com você. Eu ligo a
televisão e estou com você. Eu com você pela manhã. Às cinco da tarde. Na minha
agenda vermelha. No meu gesto mais vermelho. Na árvore: presente. Presente: eu
derrubo azul todo azul, no azul azul, água azul. Açúcar Azul. Foi o bolo de
maçã, eu sei. Muita raridade, eu sei. Muito cuidado, eu sei. Muita mancha na
toalha molhada, não tem problema. Tanto-faz. Tanto tudo. Eu recordo de um plano
esquecido. Vamos outra vez tirar uma foto com a primeira pessoa que
encontrarmos?
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