August 18, 2011

diário de adolescente

Acordou pronto para colocar um sapato mais comportado. O seu quarto anunciava um dia nublado, uma cor discreta, uma covardia bondosa em ir. Levantou e outra vez os movimentos lineares, quase imitados nas manhãs seguidas entre agosto e dezembro, foram ensaiados. Não conseguiu fazer café. Saiu com uma bolacha de sal, quase vencida, na boca e a surpresa de um dia anti-cinza. 40 minutos de atraso. Entrou na sala e tinha uma cadeira ali no extremo da meia lua de alunos dispostos.

Ele parece comigo, mas é bonito. Tem um celular-computador, óculos italiano, jeito do tipo francês-educado-discreto. Talvez ele não use vermelho. Talvez ele não goste de vermelho. Talvez meus óculos vermelhos tenham sido motivo para desistência de suco na cantina ou um love-song-elétrico na balada. Talvez ele não goste de balada. Talvez ele goste de balada com os amigos. Talvez um dos amigos goste de vermelho. Talvez ele ficasse escandalizado se descobrisse como se usa batom. Talvez ele só goste de chocolates amargos. Talvez ele esteja pronto para um amor resfriado e planeje entrar na academia. Talvez ele de repente resolva apagar a tatuagem escrita no pulso direito e desenfeitice medos enquanto as próximas manhãs de segunda-quartas-sextas invetem fôlego e coragem.

Gaguejei de desconcentração, findou-se a assadura das chances, o colapso dos dentes.
 

1 comment:

Ellen Joyce said...

Talvez um dos amigos goste de vermelho...

Esse eu dei risada!