May 20, 2018

faz muito tempo hoje. olho essa casa. olho as casas de muito tempo. os móveis estão em lugares alterados. o sofá amarelo não está mais encostado na parede. domingo passado, deitei nessa cama e chorava muito. há pendências, mas domingo passado havia mais. domingo passado, os papéis coloridos não estavam organizados. ontem, depois de muitos ciscos, arrumei-os. eles estão na mala de josé. luisa disse - que mala bonita, saulo. Eu disse - era da minha vó. e falei daquilo que sempre retorna nos meus textos. frases como 'faz muito tempo hoje' sempre retornam nos meus textos. e aquela adstringência de algumas carambolas também. e aquela coisa quando o coração acelera com calma também. é quando parece que meu olho fica mais limpo. eu chorei domingo passado pelos sete anos. tantas bads superadas. os sexos sujos e amorosos. os re-compassos de sei lá o que. aquela noite quando andei por essa rua. por aquele dia quando cheguei em casa e larissa estava aqui pela primeira vez. pela primeira vez, alguém me dizia - vamos ter um lar aqui. e lá, naquele canto da sala, ela pôs flores no jarro grande de água. esse jarro não existe mais. eu chorei por uma época em que nadava todo dia não existir mais. chorei por esses últimos quatro anos. pela vontade de criar um tropos escafandrista. eu e léo derrubamos-limpamos-pintamos paredes-lógicas. é preciso cuidado com o tempo e os espaços. é tempo de outras geografias para outros tempos. ó, eu tenho me dado conta de tantas coisas. eu era mais maduro quando tudo começou. agora só continuo improvável. trabalho quase todos os dias. às vezes falo coisas do século XIX. logo eu. ganho muito pouco. você já leu algum poeta do século XIX? não precisa. a casa está mudada. eu mudei. estou no processo de despedida. agora sei costurar livros. aprender com as mãos é melhor do que com a cabeça. 

No comments: