December 10, 2010

marcas

Você apresentou lápis, tesoura, abacaxi. Casaco amarelo, contra-cheque, pingüim. Argola, mito de Lacan, papeizinhos coloridos. Corujas, instrumento musical, máquinas de lavar. Ele ficou instigado. Marcou de ir ao teatro com Eliana. Mas falhou. Você gosta de memórias. De cartas. Cartas é mais do que lembrar. Portanto esse jeito é uma carta. Tentativa de stop. Vamos sentar numa praça. Vamos ver graça nas meninas mínimas. Mostra-lhe seu melhor-mal para ele se auto-compadecer. O anel de prata. Tudo são trechos que escutamos. Você comeu a estória do menino que queria subir na árvore e não conseguiu? História bem simples. Simplíssima. O menino não conseguiu. Porque tanta crueldade, God? Escuta dobrado: qual conto de Machado você mais gosta? Como nasce uma contação? Ele esquecia da pá-lavra. Eu esquecia quando lembrava. A própria falha memória. Falhamos o tempo todo. Você devolveu as flores. Por que? Os contos de Machado nos deixam afoitos. Eu não vou contar. Prefiro você a eu dizer do seu pai. Ele quer esquecer o seu pai. Quero esquecer meu pai na cadeia. Meu pai comedor de criancinhas ai ai ai. Conta. Pela milésima vez. Diz. Arbore esse chaveiro. E trafiquemos armas e ternuras. De onde vem esse anseio de nada? Conta nos efêmeros detalhes. Mãos de tesoura fabricando meu libido matinal. Segura as asas. Estatisticamente, quantos homens morrem entre um parágrafo e outro? Quantos berram de desespero na China, São Paulo, Dalston, Sussuarana? Deixa eu beijar sua boca até borrar o batom. Suja-me de esperança.

2 comments:

Mila Araujo F said...

Gostei muito deste.

=*

Renê Ribeiro. said...

Espetáculo.
Massa demais.