November 22, 2010

o tal casal *

Álvaro estava sem um conto. Queria comprar uma calça jeans e uma blusa azul-ciranda para usar com o suspensório. Sábado, depois de uma suspensão secular de quatro anos, reencontrará o amor passado, de nome ainda não escolhido. Quais as mudanças ocorrem depois de 48 meses? Quais defeitos desfeitos? Quais fantasmas persistem? Não sei. 3 kg a +. Quase 30. Tudo muda não muda, avança não avança. Eles falarão sobre bolos, bicicletas, e outras alegrias. Ele reconhecerá os olhos de amêndoas sobre os cachos de uva. O amor não se ausenta – elabora hiatos. É complicado falar sobre um passado ainda não futuro. Preciso tomar um café. Preciso despedir pela milésima vez dessa casa. Dessa amendoeira. Essa amendoeira disfarçou o barulho gordo do mundo; presenciou os afetos desmedidos do meu quarto; os soluços; todas as fodas alucinantes. Álvaro nunca esteve aqui. Nunca estará. Talvez em outra casa. Na próxima casa. Álvaro poderia se chamar João, Rodolfo, Pablo, Léo, Jon ou Samir. Ícaro. Mas gosto de Álvaro: soa como amanhecer. Eu sei o que é amanhecer. A insônia ensina coisas, meu caro. Insônia parece uma tia caduca. Deve ser difícil nunca ter ouvido I Love you baby, tia Insônia. Eu preciso tanto de mentiras, mas tenho dificuldades em bordar histórias – parece uma trepada engasgada. Penso essas coisas e desamanheço.  Álvaro e o Menino-de-nome-desconhecido, nesse futuro recente - vai chover? Irão para Café da Manhã em Plutão? Lerão Neruda? Quem gozará primeiro? (...) Serão risos iguais e o mundo desaparecerá. Esqueci de dizer um é do signo de sagitário e o outro ariano.
* para Pedro e Messias 

 

7 comments:

Renê Ribeiro. said...

Simples mente ...lindo

Rafael Silva said...

outras alegrias persistem no imaginário cansado do poeta incansavelmente romântico. ultrapassa qualquer fronteira ultr-amar e sonha... adquire o real através do sonhar. ah, é isso, outra forma de dizer que gostei e identifico-me com o texto ora lido, ora interpretado sob as falhas cognições individuais.
Flores do campo, banho quentinho
Uma sobremesa, um atrevimento
Dedicação, muito carinho
Derretimentos pra compensar, pra compensar
Eu moro longe no fim do mundo

Quando tudo sai da programação... said...

Que não seja desconcertar seu mundo, mas você sou eu que sente/publica a mente desperta em fragamentos de surrealidade. Nos clarões da insônia cooptamos as realidades desejadas para embalar sonos vincendos. E sempre, acho que posso falar nós, prefere os olhos abertos para absorver os lapsos do mundo. Vivemos em confrangida realidade .

Saulo Moreira said...

Carla-carlinha-carlita-carlota -
oh, isso é muito lindo: eu me ressignificar em vc e o inverso. Acho que precisamos tomar um vinho. Acho também que descobrir se aproxima de reinventar.

Rafa-el
você é um presente.

Renê
Vamos ler Quintana juntos?

Manuela B. Viana said...

Ah...a tal amendoeira...ali naquele pé nasce diariamente a cor castanha do meu olhar...Despedida é todo dia, babe..as estações nunca são sempre iguais, pra onde quer que se vá..beijos de amêndoa...Quem gozará primeiro? Realmente...por quê é sempre tão raro o gozo simultâneo? Maybe egoísmos de cada um, maybe falta de sincronia...o tempo responde sempre a tudo..o tempo é nosso papai-sabe-tudo.

Clara said...

Encantamento à primeira vista.

Posso ser sua fã? Continuar me encantando com tuas letras?

Obrigada.
Abrçs.

Saulo Moreira said...

Manuzita,
faremos um acordo com o tempo - depois teremos risos e paz.

Clara,
Obrigado, vc é muito bem vinda. Vamos nos ler, isso me intriga!