January 29, 2021

Agora é essa vez. Acordei e decidi tirar aquele negócio que me faz perder tempo e suja minha aura. Quero suar de outras formas. Ontem foi forte quando disse troços de 39 – espiritualidades, pigmentos de fechamentos, aberturas de guela. Tô ligado, já sei me segurar no rio e deixar o rio ir na gente, segurar as pontas, apontar o lápis. Semana passada foi coisa de corpo muito deslizante, vacilei, o cara me sugou quase, não me apoiei na margem, ai cê já viu, né? Voltei porque chorei. Chorar no lugar de mastigar em excesso. Aprender a refazenda de um amor vivo, comida, comer de outro jeito, meter de outro jeito: me ter de outro jeito. Ver que o romance do passado só lança no futuro o meio do presente amável. Vai lá, tô guardado na receita, sem preguiça, vi a garota escrevendo, na agenda verde, a criação do zé alto. A base é amendoim germinado com passas. Depois coloca jaca. Depois coloca banana e raspas de limão batidos. Depois coloca pinha e abacate batidos. Depois mistura tâmara, mamão e abacate de novo. Minha cereja é um figo sem terminar: a alegria veio, fez um raio, delírio, mágica, bombom.


October 06, 2020

Fly. Ver. Voar. Aquele frescor. Aquela frescura. Re-fresh. Flash. Cu. Cura. Curva. Curvatura. Eu me identificava com um corpo elástico e, ás vezes, com um corpo água. O toboágua era minha curvatura, por isso comecei a dizer sobre tirolesas. Aquele choro de ir. Aquele choro de voltar. Aquela vontade de desintegrar. O anonimato como uma organização. O livro do cara que vai desassumindo. Mas eu ainda sou um animal latino e não sei dizer unplexded em sua língua. O quintal grande. As pessoas grandes. O sol que pode queimar os olhos. Eu desafiei o sol. Quase pude ver a escuridão do sol. Voar a escuridão do sol, anoto no rodapé da página. Eu desafinado: o sol. Eu desfiei o sol. Eu desinibindo. Evitava dizer poesia em voz alta na sua frente. Você nunca percebeu meu jeito? Minha raiva era meu jeito de disfarçar minha calma. Fiquei estrangeiro. Fui ainda mais estrangeiro no país estrangeiro. Estar estrangerio na língua estrangeira. Entender que a vida da minha mãe é a vida da minha mãe. Entender que inventar ficção de ser pássaro combina com invencionice de canoa: nave. Perdi o medo do espaço? Inventar gente que voa é fazer cintilar a cahoeira desabilitada. Aquilo estilhaçado, mesmo estilhaçado, brilha. Tô tendo cuidado pra não me cortar, mas faço um corte-corte - quero um corte perto meu left do queixo, across o timpano, behind bico do peito. Seu maxilar past the bridge. Seus dentes brancos, sujos, amarelos. Você tem muitos dentes. O esperma misturado com a baba tá na cama, você esqueceu o isqueiro no sofá, tô te encarando, cara. Curto curtos-circuitos-pequenos-panes-softs-leveduras-de-cinemas-de-lágrimas. Esquece minhas lágrimas de ontem a noite, essa manhã, amanhã. Tem um bandaid na gaveta do armário do banheiro. Achou?  

October 05, 2020

Espera, olha para o céu antes. Traquinagem de seu olho faz sombra na maçã. Você ficou assombrada. Nada foi em vão: quebrar a esquina, amarrar seu dente na árvore, esperar o sinal abrir-fechar, parar em frente do carro, fazer boca de escárnio. Que twist vc fez na minha cabeça, não adianta. Depois do seu vacilo, ando com pedras e tomates na minha mochila. Não vou dizer uma palavra sequer. Estou preparado para lançar esse pileque no seu cóccix. Nunca mais te apresento um radiograma, meu palanque. Eu pisei no seu vidro preferido. Ele tá estilhaçado no meio da sala. Só vou limpar as faíscas na próxima rotação do sol. Quero ver a coisa feder. Miro também seu pescoço. Você vai entender minhas unhas afiadas. Você não vai me reconhecer.

June 27, 2020


um avião entrou no meu quarto essa tarde
eu dormia o sono da tardezinha
um avião entrou no meu quarto
ele parou a dez metros da minha cabeça
o barulho era ensurdecedor
eu ouvia crianças salivando gotas de sangue neon
o avião fez uma ventania
o avião deixou hologramas nas paredes
um avião entrou no meu quarto e fez uma ventania
o avião deixou um cheiro de cravo
o avião preencheu um vazio
o vizinho de baixo ligou o rádio
eu escutei baixinho meu coração vai continuar
eu escutei meu coração vai continuar
eu escutei meu coração vai continuar
eu escutei o som de uma baleia
ele fez uma alteração inesperada no ritmo das coisas aquáticas
as baleias prolongam notas fracas sobre notas fortes      
as baleias fazem um bailado sonoro de padrões rítmicos complexos
eu estou envolvido por um ritmo tocado contra um outro ritmo
eu estou envolvido
eu estou envolvido na contraposição das sutilezas da vida do meu quarto
o Haiti nunca mais será o mesmo 
uma baleia fez um salto no meio do mar da Argélia 
ela fez um salto igual o salto de Diogo em Babilônia
ele saltava para olhar o fundo dos corais do mar
ela saltava igual você naquela tarde
você saltava do trampolim a dez metros da minha cabeça naquela tarde
quando o avião entrou no meu quarto
quando a baleia fez o salto
quando um avião é uma baleia
quando uma baleia é um trampolim
quando você pariu um meteoro
se eu fosse escrever uma carta eu diria coisas impossíveis
se eu fosse escrever uma carta eu diria coisas impossíveis de decifrar
se eu fosse escrever uma carta eu fotografaria os hologramas
se eu fosse escrever uma carta eu diria a palavra pouso

April 04, 2020

ter tido você


era como descansar uma manga madura na boca e chupá-la e comê-la e ter os fiapos entre os dentes e sentir o suco amarelo do sumo escorrendo sob o queixo

tradução


Tá quente, minha mãe me disse. Tá muito quente. Bafo de cantos e pêlos quentes. Tenho tomado seis banhos a cada trinta segundos. Você me mostrou a rua próxima da rua onde tudo aconteceu. A mesma rua da segunda vez. A mesma rua da penúltima vez. Eu fui atravessar a rua – do cantinho do amor até a padaria. Tinha esse cheiro de pão misturado com asfalto do meio dia. O céu está entre meu sangue e seu suor. Olhei fixo para o sol até ver faíscas dançantes – um início de cegueira anunciou uma vontade de ter seus braços na minha perna quebrada.

tente outra vez

Ação 1
Encoste a ponta do dedão da mão direita na base do dedinho direito. Encoste a ponta do dedão esquerdo na base do dedinho esquerdo. Feche as mãos sobre os dedões e depois faça movimentos circulares sobre a cabeça emitindo um som oval. Respira. Tempo da ação: 3 minutos. Mentaliza tudo que faz você ter ódio. Respira.

Ação 2
Acople sua mão direita sobre o sovaco direito. Idem para o lado esquerdo. Em seguida bata os cotovelos sobre as costelas. Faça a respiração do fogo. Tempo da ação: 3 minutos.

emoção

Os pinguins já estão deitados no canto do sofá. Os cães foram embora.

pausa

Você consegue ouvir os galopes dos grilos e esse cheiro de erva-doce?

rotina adiada


Acordar devagar. Acessar o celular duas horas depois. Esquecer de acessar o celular duas horas depois. Acordar e fazer os 5 ritos tibetanos antes de escovar os dentes. Tomar limão antes dos 5 ritos tibetanos. Comer abacaxi e mamão depois dos 5 ritos tibetanos. Varrer a casa. Escovar os dentes enquanto tomo banho. Lavar os cabelos. Escrever ou inventar a lembrança do sonho acontecido. Ler. Ler mais um pouco. Fazer ioga. Pensar no almoço. Fazer o almoço. Comer o almoço. Dormir. Ver um vídeo. Fazer um tour pelos apps públicos e secretos. Fazer um poema para um boy bonito. Enviar o poema. Dançar com os nervos de aço o balanço da 23° faixa da playlist alguma coisa acontece no meu coração. Chorar um pouco e depois tentar rir. Ver um episódio de qualquer série. Separar meia hora para responder emails burocráticos. Ficar na rede. Fazer um carinho no pescoço de tapioca. Bater punheta. Cagar entre um sim e um não. Conversar com uma amizade flopada. Fazer planos de afecção, de contração, de cartografias, de desistências, de continuidades. Ventilar as palavras radiação, eucalipto, nuvem, saliva. Dançar. Ler. Escrever. Dormir.

the dog days are over


ter te ligado custou minhas fichas de ódio no meu intervalo de ternura no meu compromisso com as fodas recentes no meu alfabeto sem letra no meu ninho de antúrios de espera custou caro a viagem de ter tido os algo-ritmos algemados a vc ter te ligado custou todas minhas fichas de ódio custou uma queda suicida ralei  joelhos cotovelos e a lateral da mão direita custou o preço das ações do que restava da cidade invisível o desbotar da tinta da cortina e do sofá custou o sol na minha cara estou ardido e espalhando vitamina d custou meu dia d meu dia h custou o q da questão do quintal do canto do casual custou o limiar da lâmina feita de pedra giz custou minha espada de carne você usou a espada de ogum ter te ligado gerou bulimia foi a última gota de bílis deixou um amargo na boca e um amarelado no olho ter te ligado fez eu ficar sentado por quatro dias seguidos fez eu ficar de quatro por quatro horas fui um boneco inflável com um buraco no lugar do coração ter te ligado não conseguiu preencher meu hímen ter te ligado foi mole foi cana foi traquinagem inocente foi o jogo de azar de bilar foi ogro foi foda foi adeus foi não foi foi nódoa foi folha para te envenenar você passa bem você passa você é trem bala ter te ligado foi asa quebrada ainda estou no chão quero abraçar as placas tectônicas quero mamar como um elefante no cio quero escapulir pela tangente ter te ligado custou uma montanha russa vou empurrar você da roda gigante te afogar no lago do parque ir dessa vez eu vou pra valer dessa vez eu vou 

Notas da quarentena

- Planejo substituir o espelho do quarto pelo quadro do coração.
- Planejo tirar o quadro-colagem do casal-peixe daqui.
- Planejo terminar a leitura de 'Chelsea Girl' – faltam 100 págs.
- Planejo concluir a escrita do poema-livro. Por causa disso, espalhei mapas pela sala.
- Tenho lido bem menos do que imaginaria.
- Escrevo, publico e apago meus instantes imediatamente.
- O tédio e o tesão estão conjugados.
- Oscilo entre a euforia e o sono.
- ‘Eu sempre oscilei’.
- Fudi duas vezes.
- Procrastino os esquemas pragmáticos.
- Faço contas com a grana escassa.
- Penso nas pessoas encarceradas. Hoje teve uma live com Denise – poucas pessoas viram.
- Desisto de ler para a câmera ‘O livro de hoje do amor’ e ‘Rabiscos de uma intimidade anunciada’.
- Quero trocar a cortina e a cor do sofá, faço planos.
- Angela me conta um sonho. Respondo: Angel, parece David Linch tropical. Signos que escorreram nas minhas sinapses: elevador, crianças no final da narrativa, o homem negro, canos. Tem um trânsito permanente, né? Lição que acontece numa verticalidade. Um elevador, diferente de uma árvore, seria um anti-horizonte? O sonho começa burocrático e termina com promessa de futuro.
- Mônica me explica a configuração do céu. Até hoje não respondi sua mensagem. Sorry.
- Vejo muitas borboletas no verde vizinho daqui de casa.
- Saio três vezes durante a semana para ir ao mercado.
- Sonho com uma rua perigosa em Itapuã.
- Ligo quase todos os dias para mama. Ela me manda a voz dela lendo o texto das perguntas publicado em um dos posts no insta.
- Sara me manda mil mensagens incentivando a hashtag fica em casa e a voz de Bia falando o poema do escuro, inventado por ela. Fico bobo.
- Cibele, preocupada, me envia um áudio – ‘Tá se cuidando, amigo?’. ‘Sim, tá tudo bem, bom ouvir sua voz’, respondo.
- Gabriel, preocupado, me envia uma mensagem. Digo ‘oi, sim, se cuida, vamos escrever um livro, manda beijo para Ana’.
- Ana, da África, me faz rir e fotografa uma picture de um cara parecido comigo. Joaquim tá bem. Viva!
- Corro riscos. Tenho sequelas, agora percebo.
- Meus segredos ficam se esfregando em minha cara.
- Fabrico um planner e rasgo.
- Escrevi uma carta para Diogo.
- Escreverei uma carta para Marina.
- Acordei cansado de madrugada e penso melodramático – sou mais uma vítima.
- Escuto a discografia de Martinho da Vila, Titãs e Paulinho da Viola.
- ‘Aos prantos’ está no repeat.
- Não canso de ouvir-dançar o frenesi da canção ‘The dogs are over’.
- Fiz quatro sessões de análise pelo telefone.
- Penso nos cachorros que precisam sair de casa com seus donos que precisam ficar em casa.
- Penso naquele texto que escrevi sobre calma.
- Penso no mar respirando.
- Penso especialmente no Porto da barra respirando.
- Penso em fazer um vídeo com Gil cantando 'Ele e eu'.
- Penso na natureza crescendo sem as interferências de nossos pés.
- Tem dias que como muito.
- Tem dias que como muito pouco.
- Li textos de pessoas compartilhando esse lance de procrastinar.
- Li todos os poemas do livro 'Nódoa'.
- Li todos os poemas pornográficos de 'Cidade dos afetos'.
- Li a boneca de 'Reza'.
- Li textos avulsos de amigos.
- Limpo a casa quase todos os dias.
- Escrevo um texto com um dos Léos de my life.
- Escrevo fluxos com os babysloves Lau e Marcinho.
- Escrevo com Di frases-estratégias para ficar em casa.
- Planejo escrever um ensaio com Ramon sobre muitas atmosferas virais.
- Ainda não limpei a poeira embaixo da máquina de lavar.
- Ainda não limpei a poeira embaixo do guarda-roupa.
- Ainda não limpei a caixa de entrada do meu email.
- Ainda não arrumei os talheres.
- O boy não veio outra vez.
- Um outro boy disse que viria depois que tudo acabar.
- Lavei poucas roupas.
- Esqueci de estender os lençóis. Farei isso agora.
- Decido responder os emails burocráticos antes das oito.
- Decido assumir a casa como um ateliê de escrituras.
- Sinto falta de Lurdes.
- Sinto falta de ir ao cinema.
- Assisti ‘Hebe’.
- Tenho querido construir uma ontologia de floresta para meu corpo.
- Qual a minha verdade?
- Qual minha anti-mímesis?
- Acordo todo dia muito cedinho, mas só eventualmente levanto quando acordo.
- Tenho colocado sementes de girassol para germinar.
- Bebo o suco verde-alegria manhã sim manhã não.
- Molho as plantas tarde sim tarde não.
- Fico contemplativo sim contemplativo não.
- Pergunto sem ansiedade sobre o depois.
- Pergunto com ansiedade sobre o agora.
- Bebi uma lata de cerveja.
- Fiz um molho de tomate com muito alho poró.
- Pulei corda algumas vezes.
- Hesito se devo publicar essa lista de notas.
- Tomei banho de cravo.
- Fui correr, na terça-feira, até o porto.
- Ganhei receitas de esfoliação natural para o rosto.
- Hidratei meu corpo com argila verde. Planejo fazer isso amanhã outra vez.
- Algumas pessoas insistem em publicar o pessimismo de uma modernidade escrita em 'Congresso internacional do medo'.
- O gás acabou no meio de tudo isso.
- Comprei um pote de açaí.
- Perguntei à menina do mercado se o mercado vai fechar algum dia. Ela balançou a cabeça negativamente.
- E as diaristas não dispensadas pela patroa?
- Houve panelaço-manifestação contra a necropolítica escancarada do miliciano (minhas amigues ficaram esparançosas).
- Mandei uma mensagem para meu ex-namorado.
- Voltei aqui depois de um tempo para publicar esse texto.
- Acho que Tapioca tá sem entender: eu horas a fio com ela – nossas temporalidades se lambendo num cotidiano mais que cotidiano.
- Cada vez mais entendo que corre nas nossas veias sangue e contradição, mas cada vez mais entendo um não querer abrir mão de uma ética, ainda que entre em circuitos mais radicais.
- Agora eu estou gostando de ficar assim nesse tempo dilatado.
- Acho arriscado pensar esse momento apenas pelo viés místico.
- Nunca a territorialização e a desterritorialização de corpos, casas, ruas, países, democracias e olhos estiveram tão experienciados.
- Estou meio alienado.
- Desconfio de posicionamentos altamente auto-referenciados.
- Opto, uma vez ou outra, por uma radicalidade estratégica.
- Nunca o virtual e o real se cruzaram tanto. Nunca a ficção e a realidade estiveram tão pareadas.
- Volto a Espinosa para relembrar a lista de afetos copilados por ele.
- Escrevi, em letras minúsculas, um texto para Laura depois da minha experiência com ‘mina dágua do meu peito’. Em seguida, ela me diz que sonhou comigo nessa noite e na semana passada. Fico espantado com nossa transa astral.
- Gil leu um poema de uma música esquecida chamada 'Academia'. Fico espantado com a profecia:
A cada epidemia
A cada epicatragicômica mania
De abusar o mudo
Absurdo e cego
Querer que o mundo recite poesia
Academia
A cada epidemia
A cada novaepidérmica mania
De querer mais tudo
Sobre mais que tudo
Como se tudo não fosse todo dia
Academia
A cada epidemia
A cada epidemia nova
Eu volto imediato pra Bahia
- Bete publicou um tbt de janeiro passado quando ela e duas outras artistas construíram máscaras-respiradores vegetais. É bonito o texto da postagem escrita por ela: ‘Imaginamos um explorador-astronauta-mergulhador vindo de outro tempo. Um tempo em que aprendemos compor com outros seres, criando outros modos de viver e morrer juntos nesse planeta’.
- O futuro é agora.
- Fiz um vídeo dançando com Tapi e uma folha.
- Marília leu ‘O dia internacional da poesia em casa’. A leitura dela e o poema trazem um riso porque faz uma ternura no meu peito.
- Faço muitos prints de poemas, boys, casas e girafas.
- Nunca minha casa esteve tão latente na minha idiorritmia.
- Retorno à escrita de um poema antigo.
- Retorno à mesa de estudos.
- Estou mais atento aos sonhos, mas ainda não os escrevo.
- Comi bolo chuvisco ontem.
- Desde ontem, o céu é cinza.
- Quero correr na orla.
- E as baianas de acarajé?
- Quero prestar mais atenção nas vibrações das coisas.
- Quero abrir o corpo.
- Quero fechar o corpo.
- Quero ser forte.
- Quero ser fraco.
- Escrevo para Di: ‘amar, desistir, amar ad infinitum – porque não sou de ferro’.
- Lembrei da roupa vermelha que vesti dois dias antes da quarentena – uma calça adidas vermelha que custou quatorze contos compunha o look.
- Tem uma invasão de micro formigas na casa.
- Eu te mostrei a música-declaração que não fiz antes de vc ir. Vc me confessou os seus vacilos. Eu confessei as minhas idiossincrasias. Não chorei dessa vez.
- Essa semana faz um ano que aconteceu aquele choro-tempestade-cura.
- Dei voltas e voltas e voltas no último telefonema.
- Estou no inferno astral, mas me esqueço disso.
- Domingo acontecerá festinha das minhas 38 voltas no planeta uau – é sempre um espanto mais um year old na contagem diacrônica. Vai rolar bolo de chocolate e pão artesanal.
- Acho que minhas mãos envelheceram.
- Escutei Wandula depois de tanto tempo.
- Tô fazendo ioga com Bete e Sthefferson.- Alongo e respiro para lubrificar as algas do meu corpo.
- Anotei isso hoje: cultivar meu corpo radiante e meu corpo físico ao mesmo tempo.
- Nota de rodapé – Texto para Laura:
laurinha, acordei cedinho – quatro da madruga. vi o céu amanhecer. a rotina e o humor oscilam nessa tragada do mapa do nosso tempo astral. li agorinha mina dágua do meu peito – sua safona-onda – sua reza-reverência – é onda – é onda branda – é política de delicadeza, te cito – eu li agorinha no amanhecer. a temperatura de sua aquanatureza fez um cruzamento com a temperatura da minha aquanatureza: nossa idiorritmia. babylove, você espalhou água com sua fala – sua força – sua feminilidade – sua vulva - suas mães ancestrais. você fez uma maré no sofá azul daqui de casa. você minou e fertilizou água no meu colo e nos meus pés – vou voltar e ir e. tomei banho de cravo ontem. tomei banho de água do seu cheiro-maré hoje. p r e s e n ç a do corpo soul norte. minhas próximas horas serão guiadas pela ressaca desse gole de mar.
- Outra nota de rodapé – o Poema de Bia:
uma foto de palhaço
lá no escuro
todo feito
lá no escuro
todo está
lá no escuro
você pode imaginar
monstro do escuro
monstro do guarda-roupa
você pode imaginar tudo
assustador
lá no escuro
- Mais uma nota de rodapé – o poema do livro ‘Nódoa’ de Bobby Baq:
Usar os dedos
no lugar das pernas
para percorrer pessoas
enquanto busco nelas
a própria linha de chegada.Usar os dedos
no lugar da pernas
e deixar somente a impressão
ao invés de deixar a pegada.
- Última nota de rodapé – texto-postagem publicado no insta:
sente o drama, baby | o filtro tirou as linhas da minha testa | qual título de livro vc acha curioso? | vc ainda escreve cartas? | apareceram muitas borboletas por aí? | qual o seu melhor close na quarentena? | pergunta e segredo de liquidificador | qual quer pergunta | qual a última canção vc bebeu? | vc mata formigas? | vc insiste qdo parece que não te dão bola? | vc gosta de barba e lâminas? | vc já cortou seu próprio cabelo? | vc escutou aos prantos? | qual a última vez que vc gozou? | vc já percorreu o corpo de alguém com seus próprios dedos-coração? | vc gosta de chiclete, farinha, chá? | vc sonha caindo? | vc quer um biscoito? | vc sabe de vocêzinho? | vc pulou a cerca, o gap, a fogueira? | vc cintila no escuro? | vc já teve um blog ou um sapo? | vc conhece o significado da quartzo azul? | quantas vezes vc disse adeus? | por quantos buracos vc já se meteu? | vc já comeu terra? | vc conhece itapuã? | o que te saliva? | o que te vicia? | o que te sustenta? | pergunta | o que vc quer saber de verdade??

February 18, 2020

Chegou o carnaval. Tem moedas espalhadas no chão. Tem serpentinas espalhadas nos planos. Tem pianos exaustos. Tem flautas criando planetas. Tem uma amiga vestida com uma estampa de rosas (há 10 anos). Tem nossa foto na antiga floresta. Tem as folhas de banho esperando para perfurmar, perfurar e proteger nosso lance. Faço giros e giras – pequenas flutuações. Não esqueço da lona amarela cobrindo o corredor da pequena cidade de pedra. Aqueço joelhos e jeitos. Bebo melancia toda hora. Há quase um ano como sementes germinadas. São muitas ladeiras nesse dedo entre os dentes. Vai brotar um filme nos canos da casa? Uma formiga surfa no meu suor? Abacate: anotei fazer um planalto do plano da planta do pano da almofada do céu da amendoeira dos olhos piscando. Você-eu: notei o círculo vermelho no peito-astro-quadro. Depois volto aqui.